Glória W. de
Oliveira Souza[1]
Assim, o que prevalece é a
imaginação simbólica, cuja função é de mediar entre “a captação consciente da
realidade exterior – tal como aparece diretamente ou por meio de signos
concretos – e a matéria-prima que emana do inconsciente” (Coelho, 1997)[2]. E isso é feito através de símbolos vivos, que
se apresenta, para um observador, como a expressão melhor e mais plena possível
de pressentimento e ainda não consciente. Coelho (1997) diz ainda que o símbolo
“só é vivo enquanto pleno de significado. Uma vez dele extraído o seu sentido,
isto é, encontrada aquela expressão que formula melhor a coisa procurada,
esperada ou pressentida, o símbolo está morto, passa a ter apenas significado
histórico”. Portanto, o símbolo vivo deve conter em si o que é comum a um
extenso grupo humano para poder sobre ele atuar. Como aponta Barthes (apud
Mattelart, 2003)[3],
cada signo apresenta um duplo sentido. Um perceptível, o significante e outro,
contido no precedente, ou seja, trazido por ele, que é o significado.
Desta forma, o significado tem relação direta com a atuação do mass media e, conforme Wolf (1995)[4], decorre da consonância, cuja associação alia “os traços comuns e as semelhanças existentes nos processos produtivos da informação e tenderem a ser mais significativos que as diferenças, o que conduz a mensagens substancialmente mais semelhantes do que dissemelhantes”. Segundo esse autor, a consonância não atua isoladamente. Ela é parceira da acumulação (que é a capacidade de tematizar uma ideia) e da onipresença. Este não diz respeito somente à difusão quantitativa, mas também ao fato de o saber público – o conjunto de conhecimentos, opiniões e atitudes difundidas pela comunicação de massa – ter um caráter particular. “É de conhecimento público que esse saber é publicamente conhecido” (Wolf, 1995).
Nesse sentido, o conceito
de Maskulka (apud Vargas e Mendes)[5]
de que “a partir de determinado ponto, a quantidade de informações e mensagens,
passa a criar uma sensação de irritação que acaba por surtir efeito inverso ao
que se pretendia inicialmente, ou seja, não permite a adequada absorção das
mensagens”, não leva em conta o poder que o indivíduo tem em selecionar a
recepção dessas mensagens, já que “as comunicações não intervêm diretamente no
comportamento explícito, tendem, isso sim, a influenciar o modo como o
destinatário organiza a sua imagem do ambiente” (Roberts, apud Wolf,
1995). E essa organização é realizada a partir do conhecimento que o indivíduo
adquire. Ortiz (apud Souza, 1999), diz que é muito comum a confusão
entre conhecimento e informação. “Essa é, talvez, uma das crenças mais
arraigadas de nossa contemporaneidade. Simples, ela se impõe sem nenhuma
necessidade de demonstração”.
E a crença de que a
abundância de imagens no ambiente público e urbano provoca prejuízo ao ser
humano pode estar se tornando em uma nova crença, visto que não há dados e
pesquisas que provam tal assertiva. Vargas e Mendes dizem que “poluição visual
é o limite a partir do qual, o meio não consegue mais digerir os elementos
causadores das transformações em curso, e acaba por perder as características
naturais que lhe deram origem. No caso, o meio é a visão, os elementos
causadores são as imagens, e as características iniciais, seriam a capacidade
do meio de transmitir mensagens”. Assim sendo, o ambiente urbano estaria sendo
visto como ciência da natureza, e não como ciência social, pois “as ciências
sociais devem se preocupar com a compreensão dos casos particulares e não com a
formulação de leis generalizantes, como fazem as ciências naturais”
(Goldenberg, 1997)[6].
Ao configurar a generalização, tem-se o efeito persuasivo, pois, conforme Russ
(1994)[7],
a persuasão é a “ação pela qual se leva alguém a crer em algo, por uma adesão
completa, tocando sua sensibilidade” o que difere da convicção, que é obtida de
maneira racional. E essa ação é feita, primordialmente, pela informação, que,
segundo Wolf (1995), é um ingrediente da cultura de massa, que por sua vez,
utiliza um “sistema de cultura, constituindo-se como conjunto de símbolos,
valores, mitos e imagens que dizem respeito quer à vida prática, que ao
imaginário coletivo”.
Ao ter como base o imaginário coletivo, os defensores da existência de poluição visual o fazem a partir de uma visão particularizada, já que, através do símbolo, como aponta Coelho (1997), se “permite ao sentido engendrar limites e diferenças, tornando possível a mediação simbólica, que abre para o indivíduo a possibilidade de uma pré-compreensão do real – sempre único, singular e não universal – moldando-lhe o comportamento social”, transformando, dessa forma, em sintema[8]. Nesse moldamento socializante projeta-se a sociatria, que é “o equilíbrio sócio-histórico ou antropológico de uma determinada sociedade ou grupo pode ser expresso em termos de uma constante ‘realização simbólica’ manifesta numa cultura cuja dinâmica se dá entre a realidade biopsiquica e a realidade social” (Coelho, 1997).
continua...
[1] Originalmente divulgado por ortonímia (nome que corresponde ao autor efetivo da
obra quando um escritor não assina os seus trabalhos
sob pseudônimo ou heterônimo, ou seja, o autor possui existência
real) em forma de paper apresentado no 1. Simpósio sobre Comunicação
Visual Urbana, realizado no dia 25 de outubro de 2005, em São Paulo, promovido
pela FAUUSP. Disponível em
http://www.usp.br/fau/depprojeto/labim/simposio/PAPERS/SCV2VI07.htm
[2] COELHO, T. Dicionário crítico de política cultural.
São Paulo Iluminuras, 1997.
[3] MATTELART, A.; MATTELART, M. História das teorias da comunicação. São Paulo: Loyola, 2003.
[4] WOLF, M. Teorias da comunicação. Lisboa:
Editorial Presença, 1995.
[5] VARGAS, H. C.; MENDES, C. F. Poluição visual e paisagem urbana: quem lucra com o caos? Disponível
em <http://www.vitruvius.com.br/arquitextos/arq000/esp116.asp>.
Acesso em 03 out 2003.
[6] GOLDENBERG, M. A arte de pesquisar. Rio de Janeiro,
Record, 1997.
[7] RUSS, J. Dicionário de filosofia.
São Paulo: Scipione, 1994.
[8] Imagem que tem por função promover,
antes de tudo, um reconhecimento social; de pertencimento a um grupo ou de
identidade. Desse modo, o símbolo se funcionaliza e se vê reduzido à sua
potência meramente sociológica. (Coelho, 1997).