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quarta-feira, 15 de setembro de 2021

Existe realmente poluição visual? - 2

 


Glória W. de Oliveira Souza[1]

 

        Assim, o que prevalece é a imaginação simbólica, cuja função é de mediar entre “a captação consciente da realidade exterior – tal como aparece diretamente ou por meio de signos concretos – e a matéria-prima que emana do inconsciente” (Coelho, 1997)[2]. E isso é feito através de símbolos vivos, que se apresenta, para um observador, como a expressão melhor e mais plena possível de pressentimento e ainda não consciente. Coelho (1997) diz ainda que o símbolo “só é vivo enquanto pleno de significado. Uma vez dele extraído o seu sentido, isto é, encontrada aquela expressão que formula melhor a coisa procurada, esperada ou pressentida, o símbolo está morto, passa a ter apenas significado histórico”. Portanto, o símbolo vivo deve conter em si o que é comum a um extenso grupo humano para poder sobre ele atuar. Como aponta Barthes (apud Mattelart, 2003)[3], cada signo apresenta um duplo sentido. Um perceptível, o significante e outro, contido no precedente, ou seja, trazido por ele, que é o significado.

        Desta forma, o significado tem relação direta com a atuação do mass media e, conforme Wolf (1995)[4], decorre da consonância, cuja associação alia “os traços comuns e as semelhanças existentes nos processos produtivos da informação e tenderem a ser mais significativos que as diferenças, o que conduz a mensagens substancialmente mais semelhantes do que dissemelhantes”. Segundo esse autor, a consonância não atua isoladamente. Ela é parceira da acumulação (que é a capacidade de tematizar uma ideia) e da onipresença. Este não diz respeito somente à difusão quantitativa, mas também ao fato de o saber público – o conjunto de conhecimentos, opiniões e atitudes difundidas pela comunicação de massa – ter um caráter particular. “É de conhecimento público que esse saber é publicamente conhecido” (Wolf, 1995).

        Nesse sentido, o conceito de Maskulka (apud Vargas e Mendes)[5] de que “a partir de determinado ponto, a quantidade de informações e mensagens, passa a criar uma sensação de irritação que acaba por surtir efeito inverso ao que se pretendia inicialmente, ou seja, não permite a adequada absorção das mensagens”, não leva em conta o poder que o indivíduo tem em selecionar a recepção dessas mensagens, já que “as comunicações não intervêm diretamente no comportamento explícito, tendem, isso sim, a influenciar o modo como o destinatário organiza a sua imagem do ambiente” (Roberts, apud Wolf, 1995). E essa organização é realizada a partir do conhecimento que o indivíduo adquire. Ortiz (apud Souza, 1999), diz que é muito comum a confusão entre conhecimento e informação. “Essa é, talvez, uma das crenças mais arraigadas de nossa contemporaneidade. Simples, ela se impõe sem nenhuma necessidade de demonstração”.

        E a crença de que a abundância de imagens no ambiente público e urbano provoca prejuízo ao ser humano pode estar se tornando em uma nova crença, visto que não há dados e pesquisas que provam tal assertiva. Vargas e Mendes dizem que “poluição visual é o limite a partir do qual, o meio não consegue mais digerir os elementos causadores das transformações em curso, e acaba por perder as características naturais que lhe deram origem. No caso, o meio é a visão, os elementos causadores são as imagens, e as características iniciais, seriam a capacidade do meio de transmitir mensagens”. Assim sendo, o ambiente urbano estaria sendo visto como ciência da natureza, e não como ciência social, pois “as ciências sociais devem se preocupar com a compreensão dos casos particulares e não com a formulação de leis generalizantes, como fazem as ciências naturais” (Goldenberg, 1997)[6]. Ao configurar a generalização, tem-se o efeito persuasivo, pois, conforme Russ (1994)[7], a persuasão é a “ação pela qual se leva alguém a crer em algo, por uma adesão completa, tocando sua sensibilidade” o que difere da convicção, que é obtida de maneira racional. E essa ação é feita, primordialmente, pela informação, que, segundo Wolf (1995), é um ingrediente da cultura de massa, que por sua vez, utiliza um “sistema de cultura, constituindo-se como conjunto de símbolos, valores, mitos e imagens que dizem respeito quer à vida prática, que ao imaginário coletivo”.

 Sintema

        Ao ter como base o imaginário coletivo, os defensores da existência de poluição visual o fazem a partir de uma visão particularizada, já que, através do símbolo, como aponta Coelho (1997), se “permite ao sentido engendrar limites e diferenças, tornando possível a mediação simbólica, que abre para o indivíduo a possibilidade de uma pré-compreensão do real – sempre único, singular e não universal – moldando-lhe o comportamento social”, transformando, dessa forma, em sintema[8]. Nesse moldamento socializante projeta-se a sociatria, que é “o equilíbrio sócio-histórico ou antropológico de uma determinada sociedade ou grupo pode ser expresso em termos de uma constante ‘realização simbólica’ manifesta numa cultura cuja dinâmica se dá entre a realidade biopsiquica e a realidade social” (Coelho, 1997).

continua...


[1] Originalmente divulgado por ortonímia (nome que corresponde ao autor efetivo da obra quando um escritor não assina os seus trabalhos sob pseudônimo ou heterônimo, ou seja, o autor possui existência real) em forma de paper apresentado no 1. Simpósio sobre Comunicação Visual Urbana, realizado no dia 25 de outubro de 2005, em São Paulo, promovido pela FAUUSP. Disponível em http://www.usp.br/fau/depprojeto/labim/simposio/PAPERS/SCV2VI07.htm

[2] COELHO, T. Dicionário crítico de política cultural. São Paulo Iluminuras, 1997.

[3] MATTELART, A.; MATTELART, M. História das teorias da comunicação. São Paulo: Loyola, 2003.

[4] WOLF, M. Teorias da comunicação. Lisboa: Editorial Presença, 1995.

[5] VARGAS, H. C.; MENDES, C. F. Poluição visual e paisagem urbana: quem lucra com o caos? Disponível em <http://www.vitruvius.com.br/arquitextos/arq000/esp116.asp>. Acesso em 03 out 2003.

[6] GOLDENBERG, M. A arte de pesquisar. Rio de Janeiro, Record, 1997.

[7] RUSS, J. Dicionário de filosofia. São Paulo: Scipione, 1994.

[8] Imagem que tem por função promover, antes de tudo, um reconhecimento social; de pertencimento a um grupo ou de identidade. Desse modo, o símbolo se funcionaliza e se vê reduzido à sua potência meramente sociológica. (Coelho, 1997).